Núria escreveu...
Missão Timor 2010
Crónicas especiais - Missão em Cercoli 16-08-2010
"P. Justiniano ( salesiano) o Diácono Aquiles( salesiano) o chefe da aldeia, Ana Isabel, Felícia
( Singapura), Leo, Bia e Nuria (Madre).
A saída em jeep de Venilale as 8,30h da manha ( sempre um bocadinho mais tarde).
O Desvio da estrada principal para o lugar chamado Cercoli por um camininho de terra batida
cheio de buracos, de tal tamanho que era melhor fazer alguns pedaços fora dele.
A zona tem menos arvores, é um lugar com pouca agua, mas eles instalaram-se ai porque esta
é a “sua terra”, a sua “casa”.
Para situarmo-nos melhor é preciso saber que para ir ao mercado, para ir a Díli ou a Venilale,
para ir ao médico ou a Baucau, é preciso pôr-se a caminho nesta estrada, que quando é tempo
de chuvas deve ser tudo menos caminho, e se tem que andar uns 6kms a pé.
Hoje vai ser celebrada a Eucaristia nesta comunidade.
Na medida que faço a viagem me apercebo que aquele lugar é “ um lugar entre montanhas”.
Nuria significa isso: “Lugar entre montanhas”. :
A oração surge espontânea:
Senhor Jesus, qual a tua intencionalidade ao trazer-me num lugar que é conteúdo do meu
nome?
A Eucaristia tinha que começar as 9h. Nos chegávamos as 9,30h, mas a comunidade só se
completou por volta das 11,30h em que a Eucaristia começou.
Durante o tempo da espera aproveitamos para ensinar algumas musicas as crianças ( não
menos de 80 numa aldeia sem qualquer infra-estrutura minimamente operativa. A escola
reúne mais de 240 crianças).
As crianças, em qualquer lugar, estão aos montes e é extraordinário aperceber-se de como
tomam conta uns dos outros sem quase haver diferença de idade.
A Eucaristia foi vivida. A Igreja ainda não esta acabada, mas o lugar esta minimamente digno.
Realmente é impressionante que o nosso Deus quer acompanharmo-nos onde quer que nos
estejamos!
Celebramos a liturgia da Assumpção da Nossa senhora.
Outra realidade, para mim surpreendente é como alguns/as, conseguem sair tão bem vestidos
e penteados quando conhecemos os lugares e as suas possibilidades.
O P. Justiniano é timorense, nascido naquela aldeia. Ele é agora o Pároco de Venilale. A
Paroquia tem uma extensão enorme com lugares de culto e aldeias ate dizer chega!. Ele é
um homem serio, muito próximo das pessoas, tem por volta duns 40 anos. O seu rosto, mas
bem “fechado” se ilumina com um sorriso quando é interpelado. Os timorenses, maior mente
são assim. Apresentam-se com um ar tímido, um tanto desconfiados e esquivos, mas ao ser
cumprimentados, transformam-se e ficam iluminados por um sorriso deslumbrante.
Ao acabar a Eucaristia, agradeceram-nos que tivéssemos ido a visita-los e nos dirigimos a casa
de alguns doentes .
Cada “casa” é uma espécie de cabana feita de bambu e telhado de palha. No seu interior são
muito escuras e pobres. Em cada uma delas não falta “o altar” com a Nossa senhora e alguns
santos da sua devoção. As velas estão preparadas e se acendem. E ali nos são apresentados os
doentes.
Na ida as visitas as casas, eu, tinha-me sentido muito desconfortável pelo facto de “não
solucionar nada e rezar para que acontecera algum milagre”.
Desta vez, o P. Justiniano, “investiu-me” ( com a autoridade que me da ser Madre) para que
rezara com e sobre os doentes. Decidi não dizer nem rezar nada que eu não me sentisse
verdadeira e confortável com a minha experiencia de fe.
Assim foi. Na presença de muitos, dos familiares, catequistas, chefe da aldeia, crianças e o cão,
eram-nos apresentados os doentes. Num dialogo breve que nos situava em relação a eles,
iniciávamos logo a oração. Decidi apresentar-nos a Nossa Senhora para que nos desse a força
e a paciência para:
Fazer o que esta na nossa mão para nos sarar: médicos, remédios, descanso…
Suportar e viver com “bom humor” o que não podemos mudar, tal como são algumas doenças
que com o passo dos anos aparecem e que são próprias da natureza humana.
Mas, com decisão, aprofundar uma realidade que acalma profundamente o coração: Pedir
com fé a Deus que nos de a capacidade de ser perdoados por aqueles que nos magoamos e
perdoar nos tal como Jesus nos pede e ensina.
As pessoas ficavam um bocadinho surpreendidas mas nos olhos aparecia um sorriso
escondido.
O P. Justiniano achou que a nossa oração era muito activa.
Acabamos as visitas e fomos almoçar.
Continuo a sentir que o básico das refeições é digno na sua maneira de ser apresentado, mas
limitado no seu conteúdo: arroz, amendoim tostado, batata doce, um bocado de agua de
coco, uns poucos vegetais com uns pedaços minúsculos de galinha, agua fervida quente,outro
tipo de tubérculo, muito insonso e pastoso, que foi durante muito tempo o alimento dos
timorenses que ficaram escondidos nas montanhas. E mais nada!!, ahh sim!! As bananas
pequeninas presentes em toda refeição forte.
Foi importante apercebermo-nos de que quem acolhe, “os anfitriões” por tradição não comem
em quanto os convidados não o tiverem feito.
Acabamos a nossa visita com as despedidas, sempre um bocado cerimoniosas e sempre
acompanhados pelas “ pessoas importantes do lugar” e sempre seguidos, observados,
contemplados e acarinhados pela multidão de crianças que com os seus imensos olhos nos
transmitem simpatia, saudade, admiração e expectativa.
Fica um sabor muito forte no coração!
Nos partimos e continuamos a nossa vida. Eles ficam e a sua realidade permanece!
Não é fácil rezar de coração aberto “ o Pai Nosso”. Pergunto-me muitas vezes : Que pensas
Tu Pai deste mundo que os humanos conseguirmos construir? .. nada fácil a dizer verdade!!!
Um abraço Nuria"
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