terça-feira, 3 de agosto de 2010

Actualização Dia 7 (Bia)

 Bia escreveu...



27-07-2010 Fatumaca – Timor

"Olá a todos,
Antes demais queria aproveitar esta oportunidade para dizer a todos que estou muito
feliz por estar em Timor leste.
Os timorenses têm um enorme carinho pelos portugueses, sentem-se mesmo felizes
por nos conhecerem e não somos um “Malai” iguais aos outros.
Bem, mas tudo isto vai ser muito mais fácil de partilhar quando nos voltarmos a
encontrar em Portugal!!
Passando a nossa crónica ( que acho que sinceramente é mais fácil de escrever e
partilhar desta maneira…) hoje foi o dia que para mim, vimos o primeiro “monumento”
timorense: a escola do Reino de Venilale!! Não quero que interpretem mal porque
aqui há muitos monumentos naturais que acredito que possam ser únicos no mundo!!
È um pais lindíssimo e selvagem, como eu nunca esperei que fosse. Mas foi o primeiro
edifício ou melhor, construção( para não restringir muito) que senti vontade de tirar
uma fotografia de uma maneira positiva.
Mas voltando um bocadinho mais atrás, há alguns detalhes do nosso dia -a dia que
são dignos de registo, para mais tarde recordar.
Depois da primeira noite sob as nossas queridas redes mosquiteiras, foi altura de
acordar e de tomar, novamente, um banho de água fria o que já começa a ser normal.
Seguiu-se um verdadeiro pequeno-almoço de campeões: Chouriço de carne, chouriço
de sangue, arroz, massa, pão, entre outras iguarias desta família( eram apenas 7,30h
da manha) . Todos com algum receio que o estômago resmungasse mas caiu muito
bem e estava tudo mesmo muito bom.
Depois seguiram-se as pistas orientadas pela Leti(missionaria de Singapora). Todos
rezamos Lc.21,1-4.
Mais uma vez, o dia tinha muitas surpresas para nos, muitas coisas que nos levam a
questionar se realmente partilhamos o mesmo planeta… e a mesma língua que esta
gente, e a pergunta não podia ter feito mais sentido.
Entramos depois para a nossa magnifica Microlet que nos iria levar a Venilale, por
uma estrada que nem no lugar mais perdido de Portugal haveríamos de encontrar..
e durante meia hora viajamos ao som de um “regatom” muito radical, mesmo a
medida para o caminho que estávamos a percorrer ate Venilale. ( o que quer dizer que
estávamos sempre a “abanar o capacete”.
Tivemos o primeiro contacto com a realidade em Venilale: As crianças, as irmãs, os
padres e os habitantes.

Ao aproximar-nos da zona da escola, fomos reparando nas pessoas que olham
com um olhar curioso, acenam e respondiam aos nossos sorrisos. Depois de uma
apresentação breve da escola pelo P. Manuel, fomos brincar um bocadinho para o
campo de basquete onde estavam algumas crianças, de repente, do orfanato, saem
dezenas de meninas, aproximam-se de nos e , mais uma vez, com os seus olhos
muito curiosos, começam a fazer perguntas em tétum, depois de alguma conversa,
entre gestos e o português das meninas fomo-nos apresentando. Isto tudo parece
relativamente normal… mas há pequenos detalhes desta história que me marcaram
muito. As meninas estavam todas no orfanato e tinham uma vontade enorme de
sentir o nosso toque, o nosso olhar sobre elas e uma sede enorme que tentássemos
conversar! Foram cerca de 10mts mas foram extremamente intensos e fortes, com
tantas crianças a tocarem nos meus braços, abraçarem-me como se fosse alguém
por quem elas esperaram á muito tempo. Sempre a chamarem “mana Bia.. mana
Bia, como é que eu me chamo?” Como para terem a certeza de que não me iria a
esquecer delas. Foi muito marcante e inesperado, num momento brincávamos com 10
crianças e em dez minutos transformaram-se em 100, sempre com os olhos postos em
nos.
Apesar de toda esta vontade de brincar connosco e de falar, tivemos que ir embora do
campo, mas ficou marcado no coração de todos aqueles minutos.
Depois do almoço fomos a conhecer mais da aldeia para alem de Venilale: a clínica,
a Igreja, outra escola, ate que no final voltamos ao orfanato! Todas voltaram a correr
para o pé de nos e a chamar pelo nosso nome, a agarrar a nossa mão e a perguntar
quanto tempo íamos ficar em Venilale.
Escusado será dizer que depois de todas estas experiencias só queríamos por “mãos
a obra” e começar a fazer alguma coisa por todas as pessoas que já tínhamos
conhecido e que nos estavam a receber tão calorosamente. Mas isto foi tudo refreado
ao longo do dia pela calma (enorme) com que esta gente funciona. Já estávamos a
ficar irritados, chateados e impacientes sem saber o que fazer sem ser estar a espera.
Aprendemos logo que aqui as coisas são feitas com muito tempo e a um ritmo muito
diferente daquele com que aterramos em Timor. Aproveitamos agora já estes tempos
para conversar e para pensar nas actividades que poderíamos fazer com aquelas
órfãs que em tão pouco tempo já nos tinham marcado tanto.
Voltamos então para Fatumaca ( mais uma viagem com a Microlet que já devem ter
percebido que são sempre muito animadas!) onde fomos a missa, que desta vez
em Inglês, o que nos permite acompanhar tudo porque as outras em Tétum não
entendemos nada. Mas a maneira como estes rapazes cantam, com uma força tal,
que nos sentimos totalmente envolvidos na celebração.
A noite terminou com um jantar muito bom, sempre com muita alegria e muito
internacional onde se fala inglês, português, tétum espanhol..é óptimo sentir que
aquilo em que acreditamos é universal e nos une a tanta gente, de tantas partes do
mundo, com culturas e hábitos tão diferentes. Descobrimos ao mesmo tempo que nos
ajuda tanto viver esta experiencia com simplicidade, tolerância e abertura. A pouco
e pouco vamos descobrindo como o “coração” de Deus deve ser mesmo tão grande
para caber tanta gente que vivem tão longe… mas que na alegria e na amizade todos
somos tão semelhantes.
Obrigada por nos acompanharem, os levamos a todos no coração.

Bia"

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