segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Crónica de realidades diversas – O Mercado

Missão Timor 2010

Crónica de realidades diversas – O Mercado.

"O Mercado, em aldeias como Venilale, nas quais praticamente não se encontra quase nada, se converte no espelho da realidade da que é constituída a comunidade local.


Gosto de visitar mercados. Neles se encontram as pessoas, os alimentos, os costumes. Atraves de todo este “mini-mundo” podemos aproximar-nos das tradições, da cultura não escrita. Os rostos revelam a sua história.


O Mercado de Venilale não é bonito. È duro. È uma mistura pesada da realidade, duma agricultura de subsistência, com pouca variedade menos abundância.


“Aqui se come tudo o que não tem veneno” assim é como o Padre Elias, membro da comunidade salesiana de Venilale, com o seu bom humor e sorriso descomplexado, nos explica tudo o que se mistura com o arroz de “cada dia”.


Tenho alguma experiencia de visitar mercados nos quais ficas vacinado de comer produtos alimentares.


Venilale tem mercado as 4ª e os sábados. Não consigo imaginar-me o que seja em tempos de chuvas. A área coberta é mínima e é o lugar onde estão os produtos de fora e de roupa!


Ao redor desta zona coberta se colocam algumas bancas nos quais se mostram os produtos agrícolas, mas a maioria tem o seu posto de venda no chão, sobre um saco ou cartão, ou simplesmente chão!...E ai estão 3 ovos, uma machadinha de feijão verde, uma alface, saco de arroz a vender por canecas…3 tomates, um galo, uns ramos de umas cascaras que se mastigam para ter força. O vinho de Timor (cachaça) se vende sem engarrafar e cada um compra a quantidade que quer conforme as suas possibilidades. Também se vende ou gasolina ou petróleo, para cozinhar. Tambem pode encontrar-se algum posto de frituras. Tudo colocado de maneira a não conseguir ter muitas garantias sobre a higiene.


No mercado existem vários “cantinhos” especiais. Um deles é uma pequena zona onde se vende tabaco, por certo muito aromático. O que destaca neste canto são os homens e as mulheres que la estão, que vendem e /ou fumam, aqueles que se aproximam para comprar. O tabaco se vende solto como se fosse um “montículo pequeníssimo”. O tabaco é enrolado em folhas secas, do que seja preciso. Ver aquelas pessoas sentadas ao “Estilo timorense” fumando, com os rostos sulcados de rugas, com olhares profundos. Com toda a tradição incrustada no corpo e a “sobrevivência” marcando as suas mãos, a sua pele, a sua boca, o seu rosto. Parecem pessoas que toda a história passou sobre eles .


È como se o “Timor profundo” se assomasse por aquela janela! È indescritível as ressonâncias que aquela contemplação provoca no meu interior.


Um cantinho, um bocado misterioso porque sentes “o tabu” no ambiente e no facto de estar formado só por homens, é aquele circulo, num extremo do mercado. Não sabes muito bem o que ali se passa. Não há drogas, não há galos, mas sim apostas com dinheiro. Também intuis que não é “sensato” que um Malai ( estrangeiro) se aproxime muito.


Outro cantinho é o dos “camiões” que vêem de Baucau, cheios de mercadorias. São como os “grandes armazéns” que mostram os seus tesouros. Os produtos que ais se vendem são pouco acessíveis na zona. Eles são quem os tornam possíveis. Se temos em conta que há pessoas que andam mais de 1h andando para poder chegar ao mercado ou bem que se compra para revender em lugares que não chega ninguém, compreenderemos a importância da lixívia, ou de tantos produtos que nos nem nos apercebemos da sua importância porque sempre estão ao alcance da nossa mão.


Não vi flores. Não vi diversidade de frutas. Não vi abundância. Dos postos do pescado e da carne prefiro melhor nem falar!


Não sei se consegui transmitir suficientemente porque não imagino todo este mundo “caótico” em tempos de chuva.. todo o mundo deve estar mergulhado no barro e na lama. Tudo se vive serenamente, ainda não vi ninguém irritado e garanto-vos que em muitos momentos haveria motivos mais do que justificados.


Há muita gente, mesmo muita que ate o mínimo que conseguem o conseguem a grande custo, mas como não há outra alternativa! A realidade é que a força de ser a própria vida se tornou normal.


Missão Timor 2010"

2 comentários:

  1. Olá a todos
    Pelo que vejo na descrição, imagino o que será o resto. A população já está tão habituada que já se tornou uma rotina. É bem verdade, nós temos tudo nas mãos e por vezes não damos o devido valor. Desejo-vos força, muita força e que Deus vos acompanhe sempre, nesta vossa jornada e que estes se tornem exemplos de vida a testemunhar. Bem hajam.
    Fiquem bem
    Um abraço desde a Ilha da Madeira
    Maria João

    ResponderEliminar
  2. Uma descrição tão real que parece que estamos a dar a volta ao mercado...Não deve ser fácil assistir a tudo isso.
    Já estão na recta final, as saudades apertam...
    Bom regresso
    Petit

    ResponderEliminar